Wednesday, April 25, 2007

O 25 de Abril no presente

Para uns o relembrar desse dia, para outros o desejo de manter na memória, para mais alguns apenas o feriado e para o resto... O problema desta revolução sem sangue é o problema das grandes efemérides: a população renova-se e com os mais idosos o 'impacto' desvanece-se! Para as duas últimas classes que defini, os problemas presentes sobrepõem-se à importência daquele dia de 74 no presente. A vida das pessoas é o que mais interessa, o que é legitímo. O que não está correcto é retirar a importância deste dia, fazendo comparações sobre os problemas do agora e do antes que não podem ser feitas por alguém que não estava lá (digo não estar lá para me referir a quem não era nascido ou era muito novo).

Hoje em dia é fácil ouvir dizer que "hoje vivemos na crise, naquela altura não", referindo-se aos tempos do Estado Novo. Ou "naquela altura não teriamos os problemas que temos hoje"... O mundo é um sistema dinâmico, e nunca vamos ter exactamente os mesmos problemas em dois instantes distintos do tempo!

Eu insiro-me no conjunto de pessoas que não viveu o 25 de Abril, logo qualquer comparação que faça tem erros. Assim sendo, vou fazer o seguinte exercício: com a informação existênte não me parece difícil de concluir que, com o regime do Estado Novo, qualquer problema ou crise não tinha de ser divulgada pelo simples facto de que a maioria da população "não necessitava de saber"!
Esta Linha de acção baseia-se no pressuposto que um agricultor, gerente de uma loja, um técnico, (até mesmo um professor em assuntos fora de sua área), não teriam conhecimentos para compreender os problemas na educação, as nuances do sistema jurídico, as questões organizacionais do serviço de saúde... Estou a aplicar a ideologia do controlo da informação (do antigo regime) ao momento presente. Quantas pessoas, especialmente as primeiras a críticar Abril, não ficariam deveras incomodadas ao verem a sua "liberdade de obter informação" afectada. Isto para não falar do facto de, segundo esta linha de acção, o estado considerar estas pessoas inferiores por não achar que seriam capazes de compreender estas crises e de lhes dar resposta. Não digo que nos dias de hoje as pessoas possam dar alguma resposta, mas no mínimo é possível informarem-se independentemente dos estudos, sexo, religião, raça, etc. A falar da "liberdade à informação" ainda nem cheguei à "liberdade de expressão": as pessoas podem não dar respostas concretas (salvo pelos referendos e no voto) mas podem críticar (e se não se importam com o direito à informação, decerto que com a liberdade de expressão se importam).

Já agora, será a liberdade de expressão justificação para criticar o estado? Claro que sim.
E será liberdade de expressão um cidadão defender estados anti-democráticos? Claro que sim.
E será liberdade de expressão um cidadão querer a falta de liberdade de outros cidadãos? Não. Já dizia o ditado, "a minha liberdade acaba onde a dos outros começa", e vice-versa...
E será liberdade de expressão formar grupos cujo objectivo seja o derrubar do estado democrático para o substituir por um anti-democrático? Não. A justificação mais simples é que não é lógico um estado deixar que possam surgir, no seu seio, os meios para a sua destruição. Se assim for, este estado sofre de graves problemas. Como exemplo deixo o saudoso Estado Novo, que como qualquer estado anti-democrático impedia fortemente a existência de "grupos anti-estado", bem como as próprias "ideias anti-estado" (que a democracia não proíbe). No entanto este Estado Novo, mesmo com todas as suas proíbições e políticas conservadoras, foi incapaz de impedir o aparecimento do movimento dos capitães, que acabou por o derrubar. Obviamente na clandestinidade, mas se este Estado Novo fosse "saudável" presumo que nunca os próprios militares se teriam revoltado.

Hoje vemos estes ideais, da liberdade à informação e da liberdade de expressão, serem atacados por várias frentes. Impressionante é a forma como estes ataques surgem com várias contradições, como por exemplo: para críticar a liberdade que certas pessoas têm (e abusam por vezes), há quem diga que a censura devia voltar, e apenas certas ideias deviam ser transmitidas e outras não. Já viram como o meio de transporte para esta ideia anti-liberdade é a própria liberdade de expressão? Mas o que estas pessoas pensam e que sao dizerem isto, estão a abusar da sua liberdade. Se calhar, o problema da sociedade nos tmepos que correm, é asua incapacidade em avaliar o que é liberdade e o que é abuso... Como se distingue então? Bom senso meus senhores.